"Flutuava no oco do mundo procurando o qualquer-que-fosse.
Qualquer que fosse o espaço, a salvaria. Falta de espaço, era como um clichê: o pedaço que falta, a metade perdida, a peça sem o seu encaixe certo.
Certo?
Será que não bastaria o encaixe?
Dois pedaços de coisa unindo-se sem esforço, o inter-deslizar escrito nas estrelas. O embaraçar impossível. O feito-um-para-o-outro sem deformações.
Falo do encaixe: o vazio que só há para ser preenchido; o dedo indicador e o buraco na parede; a coisa que cabe numa outra coisa.
Flutuava no oco do mundo e o qualquer-que-fosse era do tamanho exato de uma menina média e seus vinte e tantos anos de vivência interessada. Interessada porque procura e não só vive.
Então.... flutua? Sim, mas não exatamente.
O que quer que fosse, flutuava no oco do mundo e o tal espaço era na verdade um emaranhado profundo, uma confusão embaraçada de nós inteiros. Tudo faltava e tudo fazia sentido.
Amoleceu os membros e o pescoço, retorceu o tronco descompassado e entregou-se:
E-N-C-A-I-X-E."
Giulia Boducchi